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Atrasos nas obras e demora na inauguração com unidade já pronta impedem que servidores sejam transferidos e voltem para casa. Policial penal relata perda da boa saúde e da qualidade do trabalho, além de sofrer por permanência prolongada distante de familiares, com adicional dos riscos impostos pela pandemia do coronavírus. Na próxima sexta(03), SIFUSPESP participa de ato a favor da abertura do Centro de Detenção Provisória

por Giovanni Giocondo

Já são seis anos desde que o governo de São Paulo anunciou, com pompas, que a pequena e pacata cidade de Álvaro de Carvalho, que fica na região de Marília, no interior do Estado, receberia a sua segunda unidade prisional ligada à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). Seis anos de promessas, anúncios, idas e vindas e muita, mas muita penúria para os servidores penitenciárias que esperam pela tão sonhada transferência.

O futuro Centro de Detenção Provisória (CDP), projetado para receber 823 sentenciados, avivou entre aqueles com residência no município de pouco mais de 5 mil habitantes a esperança de que, finalmente, poderiam voltar para suas casas e deixar para trás as dificuldades de adaptação, os lamentos e os traumas de se viver distantes de filhos, maridos, esposas, pais, irmãos e amigos.

Porém, o que poderia ser um alento para a já difícil vida dos profissionai que lidam diariamente com o sistema penitenciário, se tornou uma novela de enredo triste, sem previsão de fim. É o que contou ao SIFUSPESP uma policial penal lotada na Penitenciária Feminina da Capital (PFC) que, todos os meses, se desdobra entre os longos plantões na unidade e as longas viagens de 430 km para visitar a família.

“As listas prioritárias de transferências regionais (LPTR) estão rodando. Por que é que não é logo inaugurada a unidade?” questiona a servidora de 39 anos que lembra que, desde fevereiro, o CDP de Álvaro de Carvalho está pronto para funcionar e com seus diretores já trabalhando, porém sem receber nenhum detento. Após muita especulação, a SAP chegou a cogitar a inauguração para o dia 3 de março, mas o anúncio acabou não confirmado.

 

“Sofremos todos os dias só de pensar na família”, revela policial penal

Sem se identificar por temer ficar de fora de uma futura transferência - que aguarda desde que começou a trabalhar na SAP, em 2014 - ela explica que, em virtude da necessidade de fazer as trocas com as colegas, trabalha muitas horas além do que seria o recomendado, se alimentando e dormindo mal, reduzindo sua imunidade e correndo riscos de saúde, sobretudo durante a pandemia do coronavírus, em que permanece trabalhando.

Quando finalmente consegue emendar os dias que lhe possibilitarão a aguardada visita ao filho e aos pais, a sensação de alívio por encontrar seus entes queridos é substituída pelo temor de levar junto consigo a COVID-19. “Sofremos todos os dias só de pensar na família. Primeiro pela distância, agora com o perigo dessa doença”, lamenta.

Enquanto parte da linha de frente de trabalhadores que seguem atuando durante a quarentena desde março, a policial penal também revela que o grande número de plantões seguidos que precisa fazer a obriga a ir a hospitais acompanhar o atendimento a detentas, o que aumenta os riscos de contágio. “Nós vivemos no limite, pensando se vamos ir para casa ou não para não transportar a doença, mas são as pessoas que amamos, é o nosso lar, e precisamos voltar. Uma decisão muito difícil”, revela.

Além de ressaltar que a proximidade com seus parentes e a ida para o interior traria mais qualidade de vida para si e de tranquilidade e estrutura para exercer sua função na SAP, a policial penal lembra que também seria fundamental poder estar em uma casa própria, ao lado dos seus familiares, já que para quem vive em São Paulo a dura realidade é ter de dividir espaço com colegas de farda que, apesar de muito queridos, estão todos juntos principalmente para conseguir pagar as contas caras que a capital impõe.

Tendo trabalhado também em Mogi Guaçu e na Penitenciária Feminina de Santana desde que entrou no sistema, a servidora chegou a desmontar uma república que mantinha ao lado de outras nove colegas em fevereiro, quando se aventou a possibilidade de que o CDP de Álvaro de Carvalho finalmente seria inaugurado. “Vendemos móveis, eletrodomésticos e entregamos a casa. E aí veio a decepção devido à não abertura da unidade, o que nos obrigou a procurar abrigo em casas de outros amigos temporariamente”, esclarece.

Para a policial penal, as muitas coisas aconteceram ao longo dos últimos anos que podem estar ligadas à demora para que a unidade ficasse pronta e, posteriormente, passasse a receber os trabalhadores e detentos. “Houve mudanças no governo, até fatores climáticos alegou-se que atrapalharam, e agora estamos em meio a uma pandemia que a meu ver e no de muitos colegas torna a inauguração uma medida essencial”, explica.

Ela pondera que nas unidades de todo o Estado os presos estão aglomerados em celas minúsculas e sob uma enorme tensão devido ao fato de não estar havendo visitas. “As unidades tornaram-se um barril de pólvora prestes a explodir a qualquer momento. Por que então o governo não promove logo as inaugurações, aliviando assim a superlotação e facilitando a vida dos servidores?” questiona.

 

Unidade não tem prazo para inauguração, e sindicato fará ato por abertura imediata

Em 21 de fevereiro, a SAP emitiu um comunicado em que havia suspendido a inauguração, prevista para março, “devido às fortes chuvas ocorridas em 10 de fevereiro”, em que houve deslizamento de taludes no terreno, o que provocou assoreamento em várias áreas do CDP, “sendo necessário o desligamento e retirada de equipamentos para que não fossem danificados”.

Em nota enviada ao SIFUSPESP em 12 de março, portanto antes do início da quarentena em São Paulo, a secretaria havia informado que a abertura seria remarcada para maio, o que novamente não se confirmou, agora em virtude da pandemia do coronavírus.

Diante do grande número de idas e vindas na inauguração do CDP de Álvaro de Carvalho, o sindicato segue pressionando a SAP para que, mesmo frente aos desafios impostos pelo contágio da doença, seria possível fazer a inauguração e beneficiar todos os que atuam e cumprem pena no sistema. Menos superlotação, unidade nova e com mais estrutura, além de permitir que os servidores possam finalmente estar livres para sonhar com dias melhores e menos traumáticos diante de uma realidade já tão sofrida.

Na próxima sexta-feira(03), às 10h, o SIFUSPESP participa de um ato público em frente à unidade com o objetivo de exigir a inauguração imediata e a transferência dos servidores penitenciários que aguardam para iniciar o trabalho no Centro de Detenção Provisória.

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