Rogerio Grossi

Agente penitenciário e Diretor de base do Sifuspesp
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Por Rogério Grossi*

Há mais de um ano o Brasil vive com todas as consequências do coronavírus (SarCov-2 ou Covid-19), desde paralisações totais ou parciais das atividades econômicas - que fizeram explodir o número de trabalhadores desempregados e empresários falidos - até a tragédia de mais de duas centenas de milhares de mortos.

Se em um primeiro momento pouco sabíamos sobre essa doença e ainda buscávamos formas de não contaminação, ou seja, prevenção (como a aquisição e distribuição de materiais desinfetante e de proteção, regras diferenciadas para a movimentação e transporte de presos, suspensão das visitas, entre outras), hoje, com muito mais conhecimento e mais de cinco patentes de vacinas, nossa situação apenas piora. Até a própria doença avançou e novas cepas do Covid surgiram, porém, nós do trabalha essencial, continuamos trabalhando, nos contaminando e muitos de nós morrendo como no início.

Não há vacina para todos no Brasil. As brigas políticas e má gestão dessa crise nos levaram para um segundo momento ainda pior que o primeiro. São mais de duas mil mortes diárias e nós, Policiais Penais do sistema prisional, que não paramos nem por um segundo, em meio a todos esse caos econômico e sanitário, fomos escanteados e jogados para o fim da fila da vacinação.

Até o momento em que eu escrevo esse texto, 61 companheiros de trabalho já perderam a vida em decorrência da Covid-19 e, aproximadamente, o dobro dessa quantidade de pessoas ligadas a nós também se foram. São maridos, esposas, pais, avós e até crianças que, mesmo isolados em casa, se contaminaram e morreram dada a nossa atividade profissional que não para.

Não aceitaremos mais ser tratados como trabalhadores sem importância enquanto temos um trabalho que, dada a sua essencialidade para o funcionamento normal de todo o resto da sociedade, não pode parar. Se nosso trabalho é essencial e não podemos parar nem por um segundo, nossos trabalhadores também são e não aceitamos mais nenhuma morte. Exigimos vacinação já!

Reconhecemos a importância de todos os trabalhadores e lamentamos cada vida perdida nessa pandemia, porém estamos na linha de frente dessa guerra e estamos morrendo...

Agente vai levando

Não bastasse uma inflação galopante - como o preço da gasolina, alimentos, entre outros – o aumento da população carcerária (como sempre), o déficit funcional nunca antes visto na história dessa profissão em nosso Estado, as perdas salariais que ultrapassam os 30%, o aumento no desconto do “Plano de Saúde”, aumento no desconto previdenciário, o congelamento da contagem de tempo de serviço e a consequente, constante e massiva precarização de nosso trabalho, a redução, por parte do Governo do Estado, dos recursos destinados à Secretaria da Administração Penitenciária para 2021, a proliferação da Covid-19 em nosso meio e a consequente morte de companheiros de trabalho e familiares e, para coroar isso tudo, ainda vemos aprovada a PEC 186/19 que estabelece uma série de “gatilhos” que, na prática, podem ser usados a qualquer momento para congelar nossos salários, ainda teremos que lidar com a eminente reforma administrativa.

Mas, a quem serve essas políticas?

Não é acaso nem consequência de crise nenhuma. Basta dar uma olhada rápida na Lei Orçamentária deste ano e comparar com as anteriores para perceber que a precarização da Secretaria da Administração Penitenciária é plano de Governo

Vejamos:

Clique aqui e confira a planilha com histórico completo do orçamento no período 2012-2021.

Por tanto, se você leu e compreendeu esses números e se lembrar que em nosso trabalho assumimos mais de um posto, dirigimos, escoltamos, acompanhamos detentos, fazemos uma série de coisas e corremos uma série de riscos que não dizem respeito a nossos cargos, funções ou lei regulamentadora, então é razoável dizer que, de uma forma ou de outra, concordamos e colaboramos com esse Plano de Governo. Ou não?

Rogério Grossi é policial penal e diretor de base do SIFUSPESP