Por Flaviana Serafim

Trabalhadores da linha de frente e cotidianamente expostos aos riscos do novo coronavírus (COVID-19), 73,7% dos policiais penais afirmam que a pandemia causou impactos negativos em sua saúde mental; 80,3% têm medo de contágio;  87,1% conhecem algum colega de trabalho diagnóstico com a doença e 82,2% confirmam que as tensões entre os presos aumentaram. 

É o que revela a segunda fase do estudo “A pandemia de COVID-19 e os(as) agentes prisionais/policiais penais no Brasil”, levantamento feito pela internet com 613 profissionais da Polícia Penal de todas as regiões do país, de 15 de junho a 1º de julho, pelo Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e que contou com apoio do SIFUSPESP divulgando a realização da pesquisa junto à categoria. 

Na primeira etapa da pesquisa, realizada em abril, o percentual de policial penais que conheciam alguém infectado pela COVID-19 era de 54% e o salto para os 80,3% nesta segunda fase ressalta o rápido alastramento do vírus pelo sistema prisional brasileiro. 

Questionados sobre a quem recorrem nos casos de problemas com a saúde mental, 43% disseram que à família, 19% a profissionais da área de saúde como psicólogos e psiquiatras, 17% aos amigos e outros 17% não recorrem a ninguém. Quanto às emoções identificadas pelos policiais penais neste período de pandemia, 66% destacaram a tensão, seguida do medo (62%), ansiedade e estresse (57%). 

Como estratégia na busca por motivação e segurança, 57% dos policiais penais apontaram o isolamento social quando não estão trabalhando, 51% a compra de equipamentos de proteção individual (EPIs) pessoais, além do humor e empatia com os colegas (50%), estar perto da família e amigos (49%) e a solidariedade (42%). 

Dos entrevistados, só 31,2% disseram receber algum tipo de suporte de seus supervisores, enquanto 29% afirmaram ter sofrido assédio moral durante a pandemia e apenas 5,1% contam com apoio institucional para cuidado psicológico. 

Falta de proteção é crítica em todo o Brasil

Outros dois pontos chamam atenção nos resultados do estudo, confirmando a realidade enfrentada pela categoria: a falta de EPIs para os trabalhadores penitenciários é constatada em todo o país, e ainda a falta de preparo ou treinamento específico - só 12% receberam orientações formalmente para enfrentar a pandemia no dia a dia de trabalho. 

Apesar de apontar para o aumento no acesso aos EPIs, de 32,5% para 48,8% na comparação com abril, o índice é baixo considerando a letalidade da doença e na região Norte do país somente 26,3% dos policiais penais afirmaram ter recebido equipamentos de proteção individual.  

Presidente do SIFUSPESP, Fábio Jabá saúda e agradece a iniciativa da FGV com a pesquisa coordenada por Giordano Magri, afirmando que os subsídios da pesquisa são relevantes por contribuir à luta pela proteção da saúde física, mental e por qualidade de vida para a categoria. 

Segundo Jabá, os resultados da pesquisa são alarmantes e demonstram não só o problema quanto à falta de proteção física com os EPIs, essenciais contra o contágio, mas também a urgência de apoio à saúde mental dos policiais penais. 

“Cada policial penal sabe o que está passando num ambiente que já era insalubre, e que ficou pior pela falta de proteção que é culpa da SAP, pelo medo de se infectar e de levar a doença à família. Além da integridade física, o apoio psicológico e o cuidado com a saúde mental também são imprescindíveis”, conclui o dirigente. 

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