Caso registrado na última segunda-feira(09) foi tratado com ironia pela imprensa da região, que insinuou se operações pente-fino nas celas são realmente “de rotina”

 

por Giovanni Giocondo

O trabalho incessante de investigação dos trabalhadores penitenciários lotados no Centro de Progressão Penitenciária(CPP) 2 de Bauru permitiu a apreensão, na última segunda-feira(09), de um número altíssimo de aparelhos celulares, drogas, armas caseiras e outros objetos ilícitos dentro da unidade.

No total, a operação de rotina feita pelos agentes de segurança penitenciária(ASPs) recolheu 289 celulares; 96 baterias; 78 chips telefônicos; 199 fones de ouvido; 364 carregadores de celular; oito cabos com conexão USB; oito adaptadores para cartão de memória; 21 pendrives; um cartão de memória; uma bateria recarregável, equipamento para tatuagem e tintas, 640 invólucros e sete tijolos de maconha; 179 invólucros de cocaína; cinco balanças de precisão; 21 comprimidos de estimulantes sexuais; pedaços de serra para metal; duas facas artesanais e outros objetos ilícitos.

Apesar do posicionamento da imprensa local, mais especificamente o Jornal da Cidade, que insinuou que o afastamento do cargo do diretor-geral, Wilson Elorza Junior, possuía relação com o caso, e mais do que isso, afirmou que “ouviu de parentes de presos que fizeram contato com o veículo que a operação não era realizada por agentes e se prolongou por período superior às revistas consideradas comuns”, a operação foi absolutamente normal, afirmaram ao SIFUSPESP servidores envolvidos no trabalho.

Sem muralhas nem AEVPs, arremessos de drogas e celulares são comuns

“Há por parte de alguns jornalistas e das redações em geral um desconhecimento sobre o que é a rotina dentro de uma unidade prisional. O fato de a operação da segunda-feira ter o alarde que teve possui mais relação com uma tentativa infundada de atrelar - ainda que nas entrelinhas - a presença de tantos ilícitos encontrados sob poder dos presos a possíveis desvios de conduta dos agentes, como se a entrada desse material no CPP fosse oriunda de corrupção”, revela um dos servidores, que terá seu nome mantido em sigilo por questão de segurança. Ele complementa:

“É uma teoria perigosa, e que não guarda proximidade com o que acontece no nosso cotidiano, onde as operações dentro das celas e nos demais espaços são feitas com grande frequência e de forma minuciosa justamente para resguardar a segurança dos funcionários, da população e dos próprios presos”, informa o servidor.

O presidente do SIFUSPESP, Fábio César Ferreira, recorda que a unidade não possui agentes de escolta e vigilância penitenciária(AEVPs), tampouco detém muros mais estruturados, reduzindo assim a capacidade de coibir arremessos de objetos ilícitos que acabam por culminar nesse grande número de apreensões posteriores. Situações idênticas já foram retratadas pelo sindicato em Tremembé, por exemplo.

“Por lei, os CPPs são destinados a detentos de baixa periculosidade, que estão em um momento de progressão de pena para um regime semiaberto ou aberto, portanto com menor segurança. Daí que jogar nas costas do servidor um problema que é do Estado é de uma irresponsabilidade completa. Esta apreensão deveria ser exaltada como eficiência do agente no seu serviço”, finaliza.

Outro elemento recorrente que guarda relação com o registro de grandes apreensões é a superlotação da unidade. De acordo com informações da Secretaria de Administração Penitenciária(SAP), o CPP 2 de Bauru tem atualmente uma população de 2.554 presos, quase 50% acima de sua capacidade, que é de apenas 1.704 detentos.

Já nesta sexta-feira, um princípio de tumulto aconteceu na Penitenciária III de Itapetininga, quando detentos desacataram os ASPs ao se negarem a ir para o pavilhão disciplinar. O GIR foi acionado e fez a remoção dos presos, Ninguém ficou ferido.