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Sindicato denuncia que refeições não atendem a todos e teme rebelião

 

  

Notícia publicada na edição de 17/11/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 8 do caderno A (reproduzida no site do SIFUSPESP integralmente).

Telma Silvério - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

A escassez de alimentos para os presos na Penitenciária "Doutor Antônio de Souza Netto" (P-2), no bairro Aparecidinha, tem gerado preocupações em funcionários da unidade. Além da queda na qualidade dos produtos e o racionamento de itens nos pratos, os detentos deixaram de receber as três refeições diárias que têm direito (café da manhã, almoço e jantar). O problema tem sido frequente, mas há pelo menos dois meses tem sido crônico e pode resultar numa rebelião caso não seja resolvido com certa urgência, alerta o diretor da regional do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (Sifuspesp), Adriano Rodrigues dos Santos.

A situação da P-2 de Sorocaba foi denunciada por parentes de funcionários à Ouvidoria e depois ao jornal Cruzeiro do Sul. A direção do Sifuspesp confirma a denúncia, pois teria sido procurada por vários funcionários. Há sete anos como agente penitenciário na P-2, Santos revela que o racionamento de alimentos vem se arrastando durante a atual administração, inclusive com "empréstimos" de gêneros de outras unidades. Mas há cerca de dois meses a situação é considerada crítica e passou a preocupar as equipes, observa ele. Alguns presos têm ficado sem refeição. "Uma roleta russa em que se é obrigado a escolher quem vai comer e quem não vai", destaca o diretor do sindicato.

Adriano Santos explica que a atual direção da P-2 realizou algumas obras no início de sua gestão. "Só que esqueceram do básico. Não se programaram para a alimentação dos presos", critica. O diretor do Sifuspesp revela que a cada três meses é realizado um novo pregão para aquisição de alimentos, no entanto, a falta de organização fez que com que os estoques de alimentos somente baixassem. Não para alimentar os presos, mas para pagar outras unidades pelos "empréstimos", comenta. "Isso vem acontecendo há muito tempo." Na véspera do feriado da Proclamação da República, dia 14, Santos comenta que os presos ficaram sem comer. "Não tinha pra todo mundo."

O diretor do Sifuspesp conta que os funcionários estão revoltados com a situação e temem que ocorra alguma rebelião. "Se o preso desmaiar de fome a gente leva para a enfermaria e pronto. Mas se um animal trancado e com fome é capaz de virar uma fera imagine um ser humano?!", questiona. Santos comenta que nos presídios existem três regras com as quais não se brinca, pois podem gerar problemas sérios: a saúde, a alimentação e a visita. Ele explica que a saúde tem sido tratada de forma razoável, as visitas têm sido recebidas com educação, enquanto a alimentação acabou se tornando o foco dos problemas, não apenas dos presos mas dos funcionários.

Os funcionários ainda têm a opção de levar lanches e marmitex que passam pelo mesmo sistema de revistas, observa Santos. "A visita pode trazer algum alimento como agrado aos finais de semana como parte do trabalho de ressocialização." A obrigação é manter a integridade do preso, sua saúde, segurança e alimentação, acrescenta. Ele acredita que a tendência, caso não se resolva a questão das refeições, é "piorar". O diretor do Sifuspesp informa que a P-2 tem mais de 200 funcionários que atuam em quatro turnos. Atualmente são em torno de 1,6 mil detentos. "Tenho pedido a colaboração dos presos nessa questão", explica.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) para questionar sobre as denúncias, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.